Semana 4 – Idéias para selecionar as leituras

Figira 1 – Leitura com marcações importantes.

Estamos na nossa quarta semana de leitura e gostaríamos de falar um pouco sobre a importância da leitura e sobre como escolher leituras para este desafio. Falar para cientistas, estudantes nas áreas de ciência e mesmo para iniciantes que ler artigos científicos é importante soa redundante. Mas se é tão importante, por que a tarefa é habitualmente postergada e subvalorizada dentre as outras atividades científicas?

Já mencionamos nas semanas anteriores que há, certamente, tarefas mais urgentes que acabam falando mais alto. Hoje vamos falar de algumas nas vantagens que a leitura habitual de artigos científicos tem na formação do cientista. Essas vantagens certamente lhe darão ideias de como selecionar boas leituras para este desafio de leitura.

1. Conhecer o estado-da-arte

A primeira e mais óbvia das vantagens da leitura habitual de artigos é estar sempre bem informado sobre o estado-da-arte ou o “estado atual de conhecimento sobre um determinado tópico“. Essa é a vantagem mais óbvia de se ler bastante sobre um determinado tópico. Você pode inclsuive configurar o seu Google Scholar para lhe enviar alertas sobre novas publicações em temas de seu interesse. Por exemplo, se você pesquisa sobre um certo tipo de enzina, digamos Beta-Glicosidases, pode configurá-lo para receber alertas sobre novos artigos que falem desta enzima. Para quem está na pós-graduação, isso é uma coisa bem importante!

2. Dominar métodos

Outro ponto que é bem comum é a necessidade de ler sobre um determinado método. Digamos que você está estudando sobre métodos de docking ou sobre aprendizado de máquina usando redes profundas. É importante que você tenha conhecimento e tenha lido os artigos mais citados sobre esses métodos. É bem interessante inclusive que você conheça o histórico do desenvolvimento desses métodos e os diversos paradigmas que já foram utilizados. Assim, se você ainda não fez isso, crie uma linha do tempo com os principais métodos de interesse e leia os artigos principais em sequência cronológica. Pode ter certeza que você irá descobrir novos métodos pelo caminho ao bservar as referências citadas pelos autores lidos.

3. Conhecer o trabalho de um cientista ou grupo

Figura 2 – Frances Arnold, Prêmio Nobel da Química de 2018 pela sua investigação em evolução de enzimas.

Esta é uma vantagem menos óbvia a princípio mas bem interessante. Sabe aquele pesquisador que você admira, gostaria de aplicar para um doutorado com ele ou simplesmente é um dos principais nomes na área em que você trabalha?

Que tal ler os principais artigos dele em ordem cronológica? É algo muito interessante para você entender o processo de trabalho daquele cientista, a linha de pensamento, a construção de uma pesquisa relevante em um certo contexto. Já pensou ler os principais artigos de um cientista que ganhou o Prêmio Nobel por exemplo? Recentemente, comecei a acompanhar os trabalhos da Frances Arnold, Prêmio Nobel em Química, e fiquei simplesmente fascinada sobre como ela está usando métodos de inteligência computacional para o desenho racional de moléculas e até proteínas e funções proteicas.

Então, se nunca pensou nisso, saiba que uma forma incrível de entender como uma pessoa pensa é estudar tudo o que ela escreve ou produz.

4. Dominar o método científico

Outra vantagem das leituras é ir se apropriando do método científico através das várias formas de se fazer ciência relatadas nos artigos lidos. Se você lê e não observa esses “detalhes”, busque observar como os autores colocam suas questões de pequisa com base nas lacunas do estado-da-arte. Como eles constroem os experimentos visando poder responder essas perguntas? Quais as ferramentas eles usam? Quais métodos estatísticos? Qual o tamanho das amostras? Como eles discutem os resultados? Como eles apresentam as limitações do trabalho e colocam perspectivas? São tantos os pontos interessantes de serem observados e aprendidos não é mesmo? Experimente destacar esses e outros pontos que julgar interessantes da próxima vez que ler um artigo científico.

5. Ter ideias

Como já dizia Steve Jobs, a criatividade é a conexão entre ideias. Em outras palavras, somos a soma das nossas referências não é mesmo? Então, muitos iniciantes nos perguntam como ter boas ideias para um TCC, um projeto de mestrado ou um doutorado. Como levantar questões de pesquisa interessantes?

Não há uma resposta mais acertada que lendo muito, muito e muito. E mais do que isso, lendo e estabelecendo conexões entre as várias leituras feitas não é mesmo? Sempre é possível usar uma técnica existente para resolver um problema bem diverso do que ela foi criada para, ou unir duas técnicas em uma nova técnica, ou responder novas perguntas a partir de várias bases de dados pré-existentes mas integradas, só para listar uns poucos exemplos.

Leia muito e tenha muito mais ideias! Isto é quase certo!

6. Escrever bem

Por fim, crescemos ouvindo dos nossos professores de língua portuguesa que o segredo para escrever bem é ler muito. E na redação científica isso não é diferente. É um tipo de texto muito particular e, para escrever bem e com mais facilidade, ler muito é um primeiro e essencial passo. Passe a ler os artigos da revista que você sonha em publicar com a atenção ao formato dos textos e ao estilos dos trabalhos publicados. Isso vai te ajudar a perceber se seu trabalho se adequa àquele veículo, como melhor construí-lo e como apresentá-lo da melhor forma.

E você? Conta para nós outras vantagens e aprendizados que tem tirado com a leitura de artigos científicos?

Se cuidem! Fiquem bem!

-Raquel

Publicado por OnlineBioinfo Bioinformática

Meu nome é Raquel Minardi, sou bacharel em Ciência da Computação e doutora em Bioinformática. Sou professora do Departamento de Ciência da Computação da UFMG desde 2010, membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC), vice-coordenadora do Programa de Pós-graduação em Bioinformática da UFMG, coordenadora da rede BaBEL de Bioinformática aplicada a Biotecnologia, vice-coordenadora do comitê especial de Biologia Computacional da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e secretaria da diretoria regional centro-sudeste da Associação Brasileira de Bioinformática e Biologia Computacional (AB3C). Sou fascinada pela área de Bioinformática e pela possibilidade de desenvolver modelos e algoritmos para suporte a resolução de problemas tão desafiadores quanto os que envolvem a biologia e biotecnologia. Também amo ensinar e desenvolver conteúdos para ensino a distância.

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